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JOÃO MARIA

Estava indo pro ponto do ônibus quando vi aquela mulher, o rosto dela me parecia tão familiar, já eram quase dez da noite, ali, quase não fica ninguém esperando ônibus nem de dia quanto mais à noite, sorri e perguntei se havia passado o Pinheiros, me respondeu que também estava aguardando, e ficamos conversando por quase 10 minutos, estava quase desistindo quando ele apontou, e entramos, e sentamos juntas, era uma noite muito fria, essa linha atravessa uma esquina da Paulista e desce a Rua Augusta todinha, a rua, estava fervilhando, gente de todos os tipos, e ela me convidou pra beber alguma coisa, dei risada e disse que não bebia ,e ela de um jeito bem íntimo, como se me conhecesse, me pegou pelos braços e disse: bora viver! e descemos, nem sei como aceitei com tanta naturalidade, ficamos num local, que pra mim deveria ser uma boate, não sei o nome que se dá a um local daqueles, um fuzuê de gente, música, risada, muitas vozes, pareciam todos tão alegres e nós duas nas maiores confidências, chegaram umas moças conhecidas dela, gente de bem com a vida, artistas, todos pintores, me abraçaram, me beijaram, falavam comigo como se fossemos íntimos.

O dia amanheceu e saímos dali.

Nos despedimos, ela não sabia onde eu morava, nem eu sabia onde ela morava.

Passou alguns dias, tive uma vontade de rever aquelas pessoas incríveis, ela, mais ainda, e não pensei duas vezes, era sexta-feira, a mesma hora, e lá estava ela no ponto do ônibus, calça jeans, casaco de couro, os cabelos curtinhos bem pretinhos, foi tão natural, nós duas corremos uma pra outra, nos abraçamos, e falávamos ao mesmo tempo as mesmas coisas, queríamos saber como estávamos, uma coisa muito boa de sentir, sempre quando íamos começar um assunto era o mesmo que saia de seu coração ,e do meu ,dávamos risada.: fala você, não, fala você primeiro fizemos o mesmo trajeto sem parar de falar, atropelando os assuntos, mas naquele dia havia algo estranho, difícil de dizer, de confessar, até de estar escrevendo, eu me sentia atraída por aquela mulher, santo Deus, jamais senti uma coisas destas, nunca nem por curiosidade, mas não era uma atração sexual, era mais que isso, queria ficar abraçada com ela ficar em silencio ela tinha um cheiro bom ,não era de perfume, era cheiro dela mesmo e por mais incrível que possa parecer, ela me fazia lembrar de meu pai .

Ela me disse:hoje vou te levar a um local só meu,e que será só nosso,meu coração estava batendo violentamente, e entrei no apartamento dela, belíssimo, cheio de telas, muitas tintas, na sala, havia uma mesa repleta de pincéis ,uma bagunça organizada, os quadros delas eram abstratos, eu não sei dizer que arte era aquela ,mas me agradava.Me serviu uma xícara de chá, e ficou me olhando, perguntei, você está sentindo o que estou sentindo? Claro que sim, não percebeu: e me beijou... aconteceu o inusitada, ela me disse que precisava revelar uma coisa, e me disse,que ela não era mulher, mas homem, que eu não precisava me sentir perturbada com nada porque estava então tudo normal, ela me contou que sofreu por muitos anos essa dúvida sobre sua identidade, mas ela era um homem, se despiu ,e eu estava diante de um homem normal, adorável ,lindo, e tudo aconteceu, eu não era o que estava achando que seria mas a mulher de sempre, e feliz.

Viver a vida com um artista é muito bom, eles são livres,uma liberdade de alma,estou tentando pintar um girassol, nossa como é difícil eu tento mas sai é uma rosa.

Vamos nos casar, a propósito, ela se chamava Maria João ,ela foi minha Maria, e hoje é meu João.

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