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Felicidade dever de ser feliz!

Um dia chegando a casa de meus pais, encontrei ela fazendo uma conta, isso já estava na hora que nos juntávamos não, pra ver TV, mas era hora da cultura ela dizia, e cada um de nós sentado naquele banco comprido e com nossas coisas espalhadas sobre a imensa mesa que meu pai havia feito ,e cada um trazia consigo seus amores, eu, na época, estava lendo Cavalo de troia vol. I naqueles dias ,tinha sido o primeiro livro de Benittes, hoje já está no volume 8 ,sei lá, o que aquele homem descobre tanto em Jerusalém, e sua máquina do tempo, até perdi o interesse para história ,ele esticou muito a coisa ...

Meu sobrinho, colorindo, minha irmã fazendo os planos de aulas, mas naquele dia, ela, a minha mãe ,estava a fazer uma conta, ah! , meu marido na época, com suas Revistas PLACAR, mas naquela noite, ela fazia uma conta que terminou cada um de nós com um cálculo, e uma grande discussão sobre a quantia exata, e até hoje não soubemos o resultado exatamente. Ela estava tão absorta, mesmo fazendo café, sua boca estava como que apertada, contraída, não contrariada, hoje, eu sei, ah como sei, ela queria jogar tudo pro ar, chutar o balde, eu sei lá, e o tempo confirmou minhas suspeitas, e ela me disse :

-Thais, estou casada com seu pai faz 46 anos (ou mais, eu não me recordo) e eu faço todos os dias três garrafas de café, isso todos os dias, não tem nem sábado nem domingo, nem feriado, até quando viajamos eu vou pra cozinha fazer-lhe o café ,são todos os dias, quantos cafés eu já coei pro seu pai?

Nossa, houve uma mobilização, todos nós fomos fazer as contas, deu milhões de cafezinhos, eu cheguei pro meu pai e disse:

-Pai, começa a fazer pra mãe o café, ela está exausta, ela não aguenta mais repetir essa lida, faça pai, o que custa?

Não houve resposta, só um pigarro, e o cuspe no quintal e ele saiu andando, não dando confiança a questão, e o que estava atrás daquela conta...

Por favor, vocês que tem suas mães ainda viva ,tentem reconhecer sinais, e ajude essa mulher a ser mais feliz.

Eu me recordo também que ela adorava ir sozinha pra casa da cidade, e deixava todos no sítio, vou chamar assim, a casa da Piedade, um dia, liguei pra ela, tarde da noite, e ela estava com uma voz jovial, alegre, dizia que estava curtindo a vida, sozinha, sem afazeres, embora ela tivesse limpado toda a casa ,aberto tudo ,mas pra ela era um prazer, e que ela estava vendo filme...

Um dia também, ela foi me visitar, ela tinha vindo pra estar com a Valesca ,e passou em minha casa, eu já estava no meu segundo casamento, e ela chegou tão linda, tão jovial ,e ela me disse:

-Thais, peguei um taxi, recebi minha aposentadoria e pensei ,não vou andando não ,vou tomar um taxi, foi a coisa mais modernosa que ela fez em sua vida tomar um Taxi sozinha ,e era uma cidadezinha do interior.

Ela estava feliz, radiante, eu não sei o que aconteceu anos depois, e foi após a doença de meu pai, é morte de meu pai ,quando tudo desmoronou ,um dia, ela me ligou chorando ,e me disse:

-Thais eu tô sentindo tanta falta de teu pai, até das chatices dele, ele me protegia, eu sinto falta de toda a minha vida, de meus pais, de tudo, não que eu seja ingrata com a vida que tenho hoje, mas sobrou tempo pra pensar, e eu tenho sentido muita saudade de minha vida que acabou...

Minha mãe morreu devido a complicações de diabetes, ela não teve a vida doce ,e morreu dessa doença, as complicações a levou a cegueira, ela não queria mais ver o que via, e parou de enxergar , e ficou surda também, mas surda de tudo, ela não queria ouvir mais tantas bobagens, e assim morreu, com um olhar vago, sem ouvir as musicas que tanto gostava ,era uma pianista, nem ler os livros que amava, e nem mais fazer o cafezinho de meu pai ,ela se foi assim, e eu creio, que ela ,se não fosse as coisas pelas quais passou na vida ,ela chegaria bem até a idade de uns 90 anos ou mais, ela era linda de verdade, e uma mulher boníssima não porque era minha mãe, não, eu juro que não, ela era um anjo na terra, com todos e tudo ,com os animais ,com nós, suas filhas ,netas, e bisnetas, ela viveu pra nós, e esqueceu de viver pra si, tinha um sonho ,de pintar telas, quadros ,ela vivia colorindo tudo que via, e eu me sinto culpada. Hoje, liguei pra minha irmã do Rio, la da rua do mercado eu chorava, estava exatamente como minha mãe com uma saudade de mim de tempos felizes, e ela, me fez do outro lado do celular ,a retornar a fila que eu dizia não suportar ,e resolver a questão, e resolvi ,eu liguei de novo pra ela á noite ,pra contar a ela a decepção que eu tive sobre o que está ocorrendo aqui ,e eu juro, eu preciso sair daqui o mais rápido possível ,porque eu vou acabar como a minha mãe ,sem ver, nem ouvir ,e de tão enjoada com tudo ,doce ao extremo terei uma overdose de tanto açúcar ,que não tenho na vida, mas que surge no corpo no sangue, porque a vida cobra de cada um de nós o não ser feliz! Felicidade é obrigação de todos nós temos de ser.

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